Recentemente tive o prazer de ler uma reportagem sobre vários cientistas nacionais, radicados há já largos anos no estrangeiro (nomeadamente em países anglo-saxónicos) que ousaram regressar a Portugal, no sentido de exercer a sua actividade profissional de investigador. Li com toda a atenção do Mundo as considerações, as experiências, as vivências, as opiniões, os motivos dos respectivos regressos e as dificuldades antecipadas/esperadas num país de incomensurável atraso intelectual que é o nosso. E para cabeçalho desta reportagem, e emoldurada a letras pomposas, ficaram sempre as motivações das instituições nacionais que os convidaram e acolheram, como "excelência", "criação de grupos de elevada qualidade" e demais considerações superlativas no sentido de serem apostas ganhas à partida.
Pois bem, eu não acho que estes cientistas dos quais a reportagem falou sejam bons; eu tenho a certeza de que são excelentes. E compreendo e aceito com entusiasmo que se integrem no Sistema Científico Nacional como qualquer outro bom cientista que possa existir. Para que conste...
Agora o reverso da medalha: será que a excelência só existe lá fora, no tão português emigrante que regressa? Quantos cientistas excelentes existem em Portugal, e que pelos mais variados motivos optam por se doutorar nas nossas Universidades e nos nossos centos de investigação, e que não almejam nunca a terem a fama e o proveito dos filhos pródigos? Aqueles aos quais nunca são dadas condições de brilhar em pé de igualdade? Atente-se que não retiro aos cientistas que voltam qualquer mérito, antes me ocupo a dizer que o sistema nacional (conhecido por não premear o mérito nem incentivar a criatividade, a inovação e a inventividade) os impede de assumirem o seu real valor, caso nã emigrem. Os cientistas que regressam tiveram o mérito, a sorte ou o feliz acaso de se integrarem em equipas que lhes permitiram crescer do ponto de vista intelectual e científico, e assumirem-se com líderes e cientistas com inegável qualidade. Caso tivessem permanecido em Portugal, seriam mais um número no mar de investigadores da penumbra, aos quais os chefes prolongam os planos de trabalho para usufruirem dos "doces prazeres da escravatura". Portugal não é um país justo: em Portugal minam-se as ideias, e reduzem-se os méritos a mesquinhas relações de poder parasitário e contraproducente. A qualidade, principalmente quando emana de um subalterno, é inimiga do estatuto, torna-a um alvo a abater, é motivo de silenciamento e de ostracismo e exclusão. A qualidade é inimiga da "nossa" perfeição, porque o sistema perfeito nacional é aquele em que nada se questiona, nem tão pouco a estupidez.
Pergunta: não haverá gente boa em Portugal? Claro que há. Será que seremos tão provincianos ao ponto de achar que em Portugal, e para se ser bom, temos de arrecadar o conhecimento, o mérito e a reputação lá fora, para depois re-ingressarmos pela porta grande e com tapete vermelho no sistema? Será que embarcamos burros e voltamos génios? Será que ainda não ultrapassamos a síndrome da mala de cartão, em que tudo o que aparenta ser estranjeirado é bom? Será que só nos poderemos assumir na qualidade depois de nos sujeitarmos ao Purgatório do exílio?
Quanto perde o país com este espírito? Imenso, uma quantia avassaladora e inimaginável de know-how. Quem ganha com isto? Os medíocres.
Uma nota curiosa: recebo quase diariamente e-mails a pedir a divulgação de posições de docência de Universidades nos mais variados recantos do Mundo. Nunca recebi uma única para uma posição de docência em Portugal. Porque será? É a tal noção do mérito que ainda não temos, e que não teremos tão cedo.
Monday, September 17, 2007
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1 comment:
infelizmente, vejo-me forçada a concordar..... ainda que neste momento também esteja fora de portugal, concordo em pleno qunado dizes que não se dá o devido valor aos "cérebros" que temos em portugal.... o problema é que muitas vezes pessoas se calhar como eu, pq tenho uma média mais baixa do que aquilo que a fct considera minimamente aceitavel, se veem quase forçadas a sair para procurar oportunidades, conseguir construir um bocadinho de curriculo e um dia poder voltar......... simplesmente pq agora nos fecham as portas......
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