Na ciência grassa uma epidemia de há alguns anos a esta parte que ameaça inquinar ainda mais o ambiente científico nacional. É particularmente evidente nas universidades e politécnicos privados em Portugal, onde muitos dos alegados doutores mais não são do que doentes terminais infectados pelo vírus debilitante de que vos quero falar no post de hoje.
Refiro-me ao vírus de Santiago de Compostela. Foi um vírus de comodidade, que se instalou progressivamente por aqueles que sonham com os prazeres dourados de um doutoramento, mas que as voltas da vida nunca permitiram a concretização desse sonho. Melodramático, belo esse sonho. Mas felizmente, o sistema de ensino nacional teve a virtude de impedir quem manifestamente não tinha qualidade de se doutorar, até que este vírus minou o pouco de bom que as universidades nacionais foram fazendo. E fê-lo de modo subreptício e lento, foi paulatinamente sendo instalado um clima de que "existia uma alternativa ao esforço", de que era possível, com pouco tempo e com alguma facilidade, frequentar umas aulitas, distribuir uns inquéritos, modelar umas ideias, fazer uma prelecção mais ou menos longa e entediante, sem contudo produzir resultados de monta, e pimba!!!, obter o tão desejado, o tão perseguido, o tão almejado grau de doutor. Pois, e tirar o lugar, e usurpar o mérito dos verdadeiros doutores. Porque o objectivo não é mais do que este: ter o grau para ganhar mais!!! "E a Ciência"? perguntarão vós. Eles querem lá saber da Ciência!!! Querem é massa!!!
Um colega, obviamente envergonhado, confessou-me uma vez ter-se inscrito num desses programas doutorais, que ele enaltecia como sendo "um destes doutoramentos feitos para quem tem mais o que fazer do que andar a perder tempo com investigação, adequado a pessoas com vida e com família, e que não exigia mais do que umas duas horas por semana". A sinceridade é um valor que prezo...
Hoje vivem-se tempos de rebaldaria, em que qualquer imbecil com o dinheiro para pagar a propina se acha no direito de se intitular "doutor" (de Santiago, naturalmente), mas sempre "doutor". E acham-se no direito de se equiparar àqueles que, de uma forma abnegada e dedicada frequentaram centros de investigação reputados em qualquer lado do Mundo, e que souberam o que foram as reais exigências da investigação científica de bancada durante anos a fio, que escreveram projectos científicos, que publicaram artigos, que patentearam bens e produtos, que se transformaram em Doutores por mérito próprio. Que estudaram, que se dedicaram, que criaram real conhecimento com o objectivo de o partilhar com a Humanidade... enfim, esses valores em desuso que assentam sobre o prazer do trabalho, da conquista, do objectivo atingido, da dignidade e do mérito.
O que é mais lamentável é que este País, ou os seus responsáveis educativos, não estabeleçam reais critérios distintivos entre os doutores reais e os do faz-de-conta. Os reconhecimentos tácitos chegam ao ponto de haver politécnicos privados em Portugal a oferecer no cardápio Doutoramentos (coisas que legalmente não podem fazer, devido ao simples facto de não constituirem ensino universitário) em "parceria" (como eu gosto deste conceito, que serve tantas vezes propósitos duvidosos ... estilo "fazes tu, usufruo eu") com a Universidade de Santiago de Compostela. Para além disto, que diz respeito ao meu país, também lamento que a universidade galega se preste a este tipo de papel, de agente contornador da lei portuguesa.
Não haja dúvida: estamos perante uma fraude, em larga escala, que favorece os incapazes. Onde se encontra a Ditecção Geral do Ensino Superior, e as mais altas instâncias do Ministério da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior? Basta de vigarices, basta de tolerarmos situações duvidosas e manifestamente deploráveis, que abastecem o País de incapazes graduados e enchem os corpos docentes de gente falsamente habilitada.
Monday, November 5, 2007
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