"... e é assim que o Governo quer alavancar o emprego científico. Viveram felizes para sempre."
Podia começar assim o presente post. Eu que até gosto de cascar na pseudo-esquerda que se constitui governo, essa mesma do gestapiano Santos Silva, sem que muitos eleitores se tenham apercebido em tempo útil, i.e., à boca das urnas. De aldrabice em aldrabice, de bem estruturada campanha de marketing em bem elaborada tomada de posição televisionada, cá vamos nós, sem pre a fazer um esforço por engolir a já costumeira posta de bacalhau envolta em paprika de corrupção, que isto de cá passarmos sem levarmos o que de bom tem a vida, não é viver. E de facto o nosso país é naturalmente pródigo em casos de non-sense que fariam qualquer outro cidadão do Mundo rolar de tanto rir, e desistir de trabalhar por tempo indeterminado. Talvez até seja essa a intenção de quem nos dirige, aparvalhar-nos progressivamente até à exaustão intelectual, tanto por intermédio de um discurso ora kafkiano, ora simplesmente esquizofrénico, mas que nos leva a duvidar se ouvimos bem o que pivot dos telejornais acaba sempre de anunciar.
Tenho amigos que são investigadores auxiliares, com os quais privo de forma regular. Na semana passada, estava em amena cavaqueira com um deles, quando casualmente lhe perguntei qual a sua situação. Respondeu-me que iria assinar brevemente o seu 3º contrato consecutivo como investigador auxiliar, e que depois disso, mais uma vez e invariavelmente, não sabia o que o futuro lhe reservava. Chamo a vossa atenção para a reconhecida qualidade deste investigador, que até nem é Português. Começou depois a desfiar o rosário dos disparates habituais a que o nosso Ministériozinho já nos habituou. Todos sabesmos que estes contratos são assinados a 3 + 1 + 1 (anos, leia-se). Enquanto que a ideia original teria sido umae xtensão de um contrato por 10 anos, a realidade foi de tal forma distorcida que temos esta modalidade estranha, mas que tem justificação tanto na falta de inteligência do Governo, como na sua cobardia. Toda gente sabe que contratos a prazo só se podem renovar até um máximo de 3 vezes, excepto se vier lá explícito o contrário. No entanto, e como o Governo receia ter de arcar com mais algumas centenas de funcionários públicos, e relativamente bem pagos (embora o benefício para a Nação seja largamente superior ao que se retira da maioria dos 230 deputados do Hemiciclo, que até recebem mais... e reformas por inteiro após 8 anos, tanta porcaria, doce porcaria) então engendram-se aqui uns contratos de tal maneira sui generis que não se enquadram na lei geral do País no que toca ao regime laboral. Já bastava de termos só investigadores precários, agora até temos tratamento de excepção para os nossos investigadores!! Aberrante, mas de facto de notória excepção.
Nesta coisa de contratar investigadores, houve até alguns laivos de manifestações típicas dos efeitos de alucinogéneos: por incompetência manifesta, houve pagamentos realizados a alguns investigadores auxiliares em LAs deste país que estavam manifestamente errados, para cima!!! E estes investigadores, quando se aperceberam que tinham ganho alguns (muitos) milhares de euros a mais, não fossem eles portugueses, ficaram com o dinheiro. Se calhar, apoiaram-se na jurisprudência de que "ladrão que rouba ladrão...", e ultrapassaram o sentimento de culpa que lhes assolou decerto os seus corações impolutos. Que circo... mas isto não fica por aqui. Como alguns receberam muito a mais, outros houve que não receberem nada, nem sequer o subsídio de férias a que tinham contratualmente direito. Resultado: "será tudo pago no ano vindouro", palavra de gestor da coisa pública. Pois, e foi. Mas quem paga esquece-se do mundo real, aquele a quem temos de prestar contas do que ganhamos e que se chama IRS. Pois bem, estes senhores a quem se pagou indevidamente o subsídio de férias no ano seguinte, viram o rendimento bruto aumentado, pelo que passaram a estar abrangidos por um escalão superior em sede de IRS, pelo que descontaram mais.
Mais: esses investigadores, outrora bandeiras da modernidade do Sistema Científico Nacional, são hoje encarados como indesejáveis, à luz no novo regime jurídico, fundacional, que baliza o panorama universitário público nacional. Centros que os contrataram, e que com eles assinaram contratos, passarão num horizonte próximo a ser unidades orgânicas das Universidades, e casos há em que algumas destas não querem assumir qualquer responsabilidade em manter esta gente. É claro que podemos aqui especular porquê: excesso de qualidade dos investigadores, impossibilidade de estarem sob a alçada do feudalismo vigente (não pertencendo à carreira docente, não estão sujeitos aos caprichos e chantagens das cátedras), independência científica, salários que serão mais um encargo, alguma dose de irreverência saudável. Enfim, são hoje olhados de soslaio por serem aquilo que se pretendia que fossem: bons.
Que circo.
Monday, February 23, 2009
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment