Friday, February 20, 2009

Voltei de lá

Voltei de lá, que é como quem diz, voltei de um longo período de ausência em que simplesmente achei não ter suficiente inspiração para continuar na senda da denúncia. Não porque houvesse falta de motivos (essses são sempre bastantes e assaz interessantes - onde já se viu que a porcaria pudesse acabar?), mas cheguei a um ponto de equacionar o porquê da coisa. Neste caso, o porquê desta "coisa" de chamar os bois pelos nomes. Como todos, sem excepção, somos acometidos por uma imenso cansaço e vontade de parar, principalmente quando achamos que corremos sozinho, fiz esta licença sabática exactamente no sentido de re-avaliar o cenário que me fizera empreender a viagem. Reflecti, vi, apreendi, aprendi, e eis-me chegado novamente ao ponto de partida. E porquê? Exactamente pelo facto de que nunca estivemos tão mal. Ou seja, voltei de lá. De onde estive. Do atoleiro em que a Ciência tarda em erguer-se.

Para além de todas as situações embaraçosas, hilariantes, dramáticas, trágico-cómicas, absurdas, enternecedoras que vivi e que descrevi, nada ultrapassa as mais recentes revelações. Então não é que andam aí investigadores que ganharam posições no âmbito do programa Ciência 2008 que se doutoram no dia em que saem os resultados das contratções desse mesmo programa? Então não é que hoje até há doutorados sem licenciatura? Mas o que se passa no reino da macacada? Vamos por partes...

Licenciatura era, no meu tempo, condição sine qua non, para candidatura a um doutoramento. Aliás, era necessário compilar um gigantesco dossier de quase 2 kg de papel, fazendo prova das nossas alegadas habilitações literárias para que os Conselhos Científicos das instituições de ensino superior acreditassem que éramos quem reclamávamos ser. Legitimamente, diga-se de passagem. Não é por querer ser astronauta que o posso ser. Então, criaram-se regulamentos de acesso ao grau de Doutor que impediam o cançonetismo nacional (para não dizer "os verdadeiros artistas") de lá chegar. Pois bem, é que há artistas e "artistas", e há artistas mais dotados do que outras para algumas artes. Há artistas tão bons que chegam ao ponto de não concluirem licenciaturas, e conseguir uma aprovação (vá lá saber-se como, talvez depois do almoço...) de algumas pessoas que deviam estar mais atentas, ou menos sujeitas a cunhas, e que permitem que sejam aceites como alunos de doutoramento. E como em Portugal a exigência é muitas das vezes letra morta, quando se inicia um doutoramento e se tem resistência para aturar a parvoíce da burocracia das instituições públicas, e os maus humores de chefes e azedumes de funcionários admisnitrativos, é quase meio caminho andado para se chegar ao fim. E o fim é apoteótico: grau de Doutor. Por extenso, como convém, para enganar a populaça.De capa e espada.

Depois, a outra metade da alarvidade. Cuidado que nós andamos atentos, parece é que as autoridades não. Senão vejamos: o Compromisso com a Ciência prevê a contratação de doutorados prevê a contratação de gente para suprir as necessidades do sistema científico nacional. O Programa Ciência 2008, apontado como a panaceia por parte do Governo no que diz respeito ao emprego científico, foi apresentado publicamente por um Sr. Sentieiro. Nessas apresentações feirantes foi divulgado como a golden opportunity para doutorados que o fossem há mais de 3 (três, por extenso, para não acharem que me equivoquei a teclar), e a malta acreditou; abriram-se vagas, e a malta concorreu; criaram-se expectativas, e a malta acreditou; foram-se os prazos, e a malta desesperou; saíram os resultados, e malta caiu nela, de que de facto a vida em Portugal não sai do trilho do costume. E com ares de escândalo. Não é que os mesmos pseudo-licenciados concorrem, ganham as vagas, e defendem o doutoramento, e exactamente nesta cronologia??? Não andemos a enganar o povo, e lembrem-se de Guy Fawkes: há-de haver sempre pólvora, para mandar pelos ares a trampa que alguns insistem ser. É só uma questão de tempo.

No comments: