A questão das estatísticas, motivo que me levou a comentar uma das recentes notícias dando conta do interesse do Presidente da Républica sobre a falta de isenção e qualidade deste instrumento, é assaz interessante.
A Ciência não é o motivo que me faz escrever por ser cientista; é o motivo que me faz escrever por eu a interpretar como uma alavanca do progresso do nosso País. A Ciência, e a sua aplicação tecnológica, é o motor que faz com que as verdadeiras economias modernas e competitivas (Japão, alguns países europeus e os Estados Unidos da América) se mantenham há décadas como superpotências industriais e económicas. A Ciência é um dos caminhos para a criação e (posterior) divisão da riqueza, contribuindo para uma diminuição das desigualdades sociais e para um aumento da qualidade de vida dos países onde é desenvolvida. São estas as razões que me fazem assumir esta verdadeira e sincera afinidade com esta questão. Mas assumo igualmente que, caso não fosse cientista, provavelmente não teria possibilidade de encarnar este papel, pois a minha sensibilidade para estas questão seria, no mínimo, académica...
E aqui é que de facto a porca torce o rabo. Vivemos num país mesquinho, de gente pequena e inteligência mediana, muito versada na maledicência e na manutenção de quintais estéreis. Mas o meu quintal, é meu, só meu, e ai daquele que se atreva a achar que o meu quintal podia ser mais produtivo. E de quintal em quintal, de canteiro em canteiro, de regato em regato, vai este país perdendo as oportunidades de se tornar mais moderno, mais rico e inevitavelmente mais justo. É esta a importância que dou ao meu papel. A maioria dos portugueses nem sabe, nem sonha que sequer se faça ciência em Portugal, mas Ciência a sério, da boa, para além das aparições sistemáticas dos comentadores habitués de algibeira, que são físicos e falam também muito bem de biologia e bioquímica, que vá-se lá saber porquê sentam o traseiro em tudo o que é oportunidade para aparecer no pequeno ecrán, a intoxicar as mentes das criancinhas e dos ignorantes com meias verdades, com lugares comuns que aprenderam na meia hora anterior a entrarem no ar, com ideias modernaças e espalhafatosas, com pequenos intróitos pseudo-intimistas (como se o homem-espectador esclarecido lá quisesse ser inundado com sentimentalismos balofos de quem abandonou o seu lar e um dia regressou...), com ignorância travestida de conhecimento profundo... É por isto que por vezes me revolta profundamente ser português, por ver serem dadas oportunidades (e tempo de antena...) para ouvir a mais profunda boçalidade e banalidade, somente porque o orador "fala muito bem". Por mim, até podia dizer asneiras em solfejo, que eu não pago bilhetes para perder tempo. E não admito que uma televisão do Estado esteja ao serviço de lobbies, sejam eles de natureza económica, sexual, política ou mesmo científica...
Porque são este figurões a quem interessa falsear a ciência!!! Quem é bom, e quem realmente fez o ensaio, a experiência, quem espreitou no microscópio, quem preparou a bicharada, quem andou metido em lodo até ao pescoço a medir não-sei-o-quê, esse sabe decerto sobre que versa aquilo que escreve. Agora o físico/biólogo/bioquímico/lobbista percebe de quê, para além de olhar muito bem pela sua vida? E as estatísticas tratam os dois por igual, o que faz, e que é o verdadeiro CIENTISTA, e o outro, o chulo dos costumes finos, o especialista em tudo e mais alguma coisa, o comentador do fait divers, que tanto comenta a mais recente descoberta no âmbito da luta contra o cancro do colón como o último golo do Belenenses, que por acaso até estava em fora de jogo. E é com estas estatísticas que o Governo tapa o sol com a peneira, dizendo que há excelentes investigadores em Portugal, e mantém o parasita na sua Torre de Babel, no seu pedestal, à frente de um laboratório "muito produtivo". Há, com toda a certeza, mas seremos unânimes em concordar que haveria melhor investugação se aos bons investigadores se retirasse o peso do parasitismo do seu director. Porque se mérito há a dar a este último, será somente o mérito de ser mestre na arte de enganar, e enganar com números, o que é complicado. As artes de presditigitação, ou de saltimbanco, são convenientes para os espectáculos de feira, ou circenses, onde a pantomina é breve e inofensiva; agora andarem a brincar com o futuro deste país, e de uma geração de cientistas brilhantes, só por uma questão de ego e de "testículos", então vão-me continuar a ler as crónicas apimentadas.
Lembre-se o grande público: o nosso futuro depende da ciência; até quando estaremos dispostos a ser enredados por falinhas mansas, e enganados por tempo indefinido?
Wednesday, August 29, 2007
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2 comments:
Qual e' a noticia/estatistica/comentario no Publico a que se refere?
Olá, caro Test
Refiro-me ao comentário sobre a chamada de atenção por parte do Sr. Presidente da Républica quanto à utilização de estatísticas e a necessidade de rigor na sua produção.
André Silva
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