Uma das maiores desgraças da Ciência portuguesa prende-se com a incapacidade que os cientistas sentem em comunicar a importância do que fazem. E a culpa é de todos: dos cientistas que arrogantemente entendem não ser sua obrigação saber divulgar o que fazem, dos políticos que financiam o que não compreendem, e do público em geral que só gosta de raios laser e coisas que terminem ou em bolas de futebol robotizadas ou em explosões luminosas como fogo de artifício. No entanto, algumas individualidades de mérito indiscutível juntaram-se para fundar várias (de momento vêm-me à ideia duas) associações de comunicação de ciência e uns gabinetes especializados, a par com um já longo trabalho de outros cientistas e académicos nacionais, para transformar dados em linguagem inteligível para o comum dos mortais.
Mas isto não chega, e é chegada a hora de desmistificar um dos argumentos principais que grassa em muitas das discussões sobre ciência em que a populaça participa, que é o argumento falacioso de que só queremos viver à custa do Estado, e ainda por cima para fazermos coisas sem qualquer interesse. Não há fórum nenhum em que este tipo de barbárie intelectual, mesquinha e primária, não surja de modo sistemático, talvez impulsionada pelo ódio serôdio a tudo o que é "público". No entanto, e vistas bem as coisas, se não for o Estado português a investir na formação dos portugueses, quem será? É isto a que esses interlocutores de estatura intelectual de palmo e meio nunca me conseguiram responder satisfatoriamente, apesar das prédicas incansáveis em torno de uma lógica de mercado que, por cá, parece não se aplicar.
Empresas que invistam em Ciência? Onde? De uma forma séria, responsável e consciente? Sem aproveitar os benefícios do Estado para contratar mão de obra qualificada, sem a despedir ao fim do período da comparticipação do Estado?
Mas também, e pensando longamente no assunto, que exemplo dá o próprio Estado? A iniciativa de contratação de 1000 doutores como vai acabar? Uma iniciativa sebastiânica, salvadora da pátria científica, que alegou ir empregar 1000 doutores no plano quinquenal de 2007 a 2012, com regalias sociais justas e remunerações condignas? E ao fim de 5 anos? Será que o Estado vai mesmo despedir esta gente toda que contratou? Então expliquem-me qual a utilidade de contratar 1000 pessoas a um prazo de 5 anos, quando a intenção declarada é não renovar contratos. Mais ainda: digam-me por favor qual a diferença entre esta situação com que tanto arquinho e balão se engalanou a sanjoanina praça da Ciência nacional e uma bolsa mais bem paga?
Algo vai mal, quando temos o Sr. Estado e a Sra. Opinião Pública a achar que a Ciência não serve para nada. Eu perdoo a ignorância a um destes, mas ao outro custa-me...
Tuesday, January 22, 2008
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