Wednesday, January 9, 2008

Doutores? O que é isso? E para que serve?

Vivemos mais de 5 décadas no mais completo obscurantismo, e damos por nós sem "pai" que nos governe com uns tabefes "correctivos", sós e abandonados ao nosso fado, e espantamo-nos por sermos um país de sacanas, em que o civismo é um conceito adiado, esse estranho... Tal é o estado da coisa em Portugal, e a Ciência alimenta-se desta tragicomédia em que Portugal se foi tornando.

Vem um ministro que decreta que Portugal precisa de mais doutores, a televisão papagueia, o ignorante espectador fecha os olhos entre um gole de vinho sorvido à hora do jantar, e depois vemo-nos na contingência de ver gerações sucessivas de recém-licenciados a adentrar pseudo-convictamente o palacete da sobre-qualificação. 4 anos volvidos, e o País continua a precisar de mais doutores!, e está esta gente toda na rua, desempregada, acabrunhada e vergada sob o peso da sua terrível inconsciente opção, e quem ganhou com isto?

Para além do ministro de então, ganha o ministro do agora, e ganha a cúpula universitária pública portuguesa. Esta ganha porque não perde dinheiro, porque sobe na carreira, porque se viciou em proxenetismo bem pago e estendeu as tentaculares influências que tudo minam. E quem perdeu? Primeiro, perdeu o País uma exelente oportunidade de se modernizar, formando e utilizando a qualificação que pagou; segundo, perdem os doutores da fornada em causa, porque ousaram questionar a alegada mediocridade da licenciatura e quiseram ir mais além - para nada, qual esforço inglório e do qual a história não rezará; terceiro, perdemos todos nós, os contribuintes, que pagamos o esforço de financiar a máquina; quarto, perdem as empresas, porque cada vez mais recorrem a tecnologia importada, quando a podiam ter nacional e mais próxima; e quinto e último, perde o sistema, porque não se moraliza... é que eu ainda sou dos que acreditam que a verticalidade é um valor, não transaccionável naturalmente, e por consequência acima do "poder de compra".

Racionalizemos: não há emprego científico no sistema científico nacional, e os que há são para os que regressam do estrangeiro; este critério é, na minha opinião, de um provincianismo atroz, pois não é possível assumir que temos uma oferta de doutoramentos tão boa cá como em qualquer outro lado do mundo, quando na prática os doutorados nacionais são sistematicamente preteridos para a gestão de novos grupos criados de raíz... Eu compreendo que a parolice científica nacional se goste de engalanar em torno da fantasia do filho pródigo, mas convenhamos... Emigro burro, regresso génio??? Depois, não há vagas nas universidades ou politécnicos que garantam um escoamento meritocrático dos doutores. O que se arranja é cunha, ou porque alguém tem uma especial predilecção para degustar o couro dos sapatos do mentor... E as empresas? Não sei delas!!! Um doutorado numa empresa é visto com uma estranheza semelhante aquela que acompanha um extraterrestre numa loja da Zara a comprar fatos de banho! Mas eu compreendo: para gente séria, este meio universitário decrépito, interesseiro e corrompido deve parecer muito pouco apelativo.

Conclusão/questão: para que queremos doutores?

Actualmente, doutora-se gente para que sejam pós-docs, não para termos doutorados. Isto dá que pensar...

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