Monday, May 21, 2007

Ciência da treta ou a cagança científica

Para começar a bater onde elas mais doem, vou colocar à discussão o sempre interessante tema da falsificação da Ciência nacional. Quantos de nós não saberão ou não terão já presenciado verdadeiras engordas de curricula à custa dos imvestigadores junior? Do estilo do chefe pressionar o seu aluno de doutoramento, ou mesmo um investigador pós-doc, a elaborar um projecto, e depois obrigar o aluno a indicar como coordenador responsável pelo projecto o seu chefe ou orientador? Eu considero este panorama terrivelmente lesivo dos interesses científicos e até nacionais, e por várias razões, que passo a enumerar:
a) cria uma distorção inevitável nos critérios de avaliação da ciência; os cientistas junior (chamesmos-lhe assim, sem contudo associar qualquer carga pejorativa a esta definição) nunca chegam a emancipar-se em tempo útil de orientadores e chefes, e quando são avaliados, nunca chegam a ser contabilizados os indicadores da sua real produtividade e, comsequentemente, qualidade;
b) permite a criação de chefes-parasita... e com os quais o próprio Estado é particularmente benevolente, pois isto é uma realidade conhecida até de Bento XVI! Veja-se: são normalmente docentes de Universidades Públicas, logo, funcionários públicos, a quem o Estado paga os salários; quanto mais progridem, mais ganham, e muito provavelmente ganham muito acima das suas reais qualidades - à custa de todos nós;
c) desvirtua o sistema de avaliação da Ciência, pois este sistema, ao levar em linha de conta factores "cegos" (como número de publicações e número de projectos aprovados), não avalia a real proveniência das ideias;
d) permite o estabelecimento de verdadeiros feudos, porque esta situação é de "bola de neve"; quanto mais projectos aprovados se tem (mesmo à custa de alunos ou alegados subordinados), mais probabilidades se tem de novas aprovações. Só mesmo em Portugal é que o crime compensa, à descarada!
e) cria círculos restritos de benefício e exclusão; eu explico: beneficia os amigos, exclui os não alinhados ou os inimigos, que é a mesma coisa; lembram-se do discurso do Presidente Bush, de quem não está connosco está contra nós? Pois bem, na ciência é a mesma coisa. Consequentemente, os poucos que ainda vão tendo vergonha na cara, não vão tendo financiamento para os seus projectos, logo vivem na penumbra;
f) torna-se numa fonte quase inesgotável de mão de obra terrivelmente conformada, com consequências viciosas que colocarei a debate noutra oportunidade.

Se perdermos um bom par de minutos a pensar a quem serve este cenário, poderemos, creio eu, concluir que:
- não interessa ao nosso país; se existe investimento em Ciência, esse deve ser canalizado para os mais aptos, e não para os parasitas dos mais aptos;
- não interessa aos parasitados;
- não interessa ao cidadão comum; se o público soubesse de que valores estamos a falar, rapidamente teríamos um verdadeiro motim social: os projectos financiados pelo Estado português, podem chegar até aos 200.000€. Se concluirmos que este processo de chantagem e parasitismo de que falo abarca dezenas ou até centenas de projectos, estamos a falar de um fenómeno em larga escala. E já sem contabilizar o efeito da corrupção generalizada, que é endógena ao sistema público português, de que falarei noutro tópico.

Então a quem interessa?
- aos parasitas, que são quem obviamente beneficia;
- estranhamente, ao Governo; tem sempre a possibilidade de hastear as bandeiras da produtividade, do investimento, do choque tecnológico, da interdisciplinaridade... Esquecem-se é que se, por hipótese, o sistema actual de corrupção permite ao Ministério invocar argumentos de elevada produtividade científica, caso essa corrupção e essa mentira não existissem, os mesmos índices poderiam ser facilmente multiplicados por 5 ou 10 vezes;
- aos directores dos departamentos onde estas situações ocorrem, nomeadamente nos designados Laboratórios Associados, que mais não são do que uma criação subtil da era Gago de 1ª geração, que criou terras sem lei onde todos os abusos são permitidos; estes "cientistas" de salão podem sempre usufruir da palhaçada e do show off mediático, dos beberetes, da lagosta suada à pala do orçamento de Estado e do POCTI, dos encontros com Universidades estrangeiras reputadas e de algumas despesas pagas, como telemóveis e computadores portáteis para usufruto pessoal.

Tantos temas para discussões interessantes e tão pouco tempo... e tanto previlégio escandaloso para debater.

Falai, é hora do povo se pronunciar.

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