A corrupção existe, de modo generalizado, e com o alto patrocínio do Estado. Vou dar-vos um exemplo que pedagogicamente é muito interessante, de tão ilustrativo que é:
Há já um bom par de anos, quando os paineis de avaliação dos projectos da FCT eram ainda mistos (com avaliadores portuguese e estrangeiros, simultaneamente), aconteciam as situações mais bizarras. Ainda hoje acontecem, mas nessa altura era descabido o número de vigarices.
Era extraordinário que projectos dos próprios avaliadores portugueses fossem submetidos a esses paineis. Eu sempre achei que deveria estar previsto um regime de moralização, que impediria que um avaliador submetesse um projecto à área científica que ele mesmo iria avaliar, um sistema de prevenção da corrupção em que quem avalia nunca poderia avaliar os seus próprios projectos. O pior era quando eles vinham aprovados! E não eram tão poucos como isso! E alguns dos "grandes" investigadores da nossa praça fizeram os seus curricula vitae à custa disto, curricula com os quais chegaram às cátedras, e agora mandam nisto tudo, por via da teia de influências e da contabilidade de favores que estabeleceram nesses anos dourados.
Outra situação a lógica do favorecimento ocorria quando estes mesmos avaliadores aprovavam ou faziam aprovar os projectos dos amigalhaços: ex-alunos seus de doutoramento, apaniguados, engraxadores, submissos, investigadores auxiliares, gente que vai ao beija-a-mão, dependentes e indefectíveis cães de guarda. Isto ainda hoje é prática corrente...
Voltando ao exemplo... Um destes grandes senhores, que fazia parte de um dos tais páineis, enviou um contacto a um seu colega de universidade, não do mesmo departamento, que versava mais ou menos o seguinte:
"Caro amigo, se calhar não me conhece, mas sou fulano. Gostaria de o convidar a ser um dos partners do projecto que vou submeter a concurso para financiamento à FCT, e posso desde já garantir-lhe que ele vai ser aprovado, pois eu sou membro do jurí que avaliará os projectos submetidos a essa área."
O aliciado, que não era parvo, e que se calhar ainda teria alguma réstia de escrúpulos, respondeu, igualmente via e-mail dizendo não estar disponível para essas trafulhices. E fez mais: divulgou o mail inicial, o mail corruptor, pelos pares do autor da corrupção, no seu departamento e por toda a Universidade.
Resultado: nenhum, hoje o corruptor é Presidente do Conselho Directivo da instituição onde isto ocorreu. E o painel de avaliação da FCT continua o mesmo, com a excepção de que já não conta com ele como avaliador. Mas não por ele ser corrupto, mas porque hoje os paineis da FCT são internacionais... Em que todos, sem excepção, dos avaliadores são amigos e colaboradores científicos do português que saiu, mas que obviamente mexe os cordelinhos das aprovações.
Uma curiosidade: você sabia que?... os paineis de avaliação da FCT da área de que falo, com a excepção da saída deste indivíduo de que acabei de falar, são exactamente os mesmos desde 2001? A quem serve este estado de coisas?
Pois é, só lamento é que em vez de estas discussões serem tidas aqui, não sejam tidas no MCTES, com a presença do Sr. Procurador Geral da Républica. Mas pode ser que no futuro as coisas mudem, e que alguns destyes senhores comecem a pensar duas vezes antes de enganarem toda a gente.
Wednesday, May 23, 2007
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