Fiquei muito satisfeito por ter descoberto que o descontentamento relativo ao papel da FCT se materializa cada vez mais na tomada de posição das pessoas envolvidas na Ciência nacional, com iniciativas como o http://investigarafct.blogspot.com/. É uma iniciativa meritória, e a ver vamos se de facto chega a bom porto. É hora de quem de facto sente a tremenda injustiça que grassa no panorama científico se mobilizar a exigir decência e qualidade no trabalho. Já não vivemos numa época corporativa, em que a "cunha" seja moral e socialmente aceite. Não podemos continuar amordaçados por cátedras, nem tão poucos pelos aspirantes a essas mesmas cátedras e a todos os seus expedientes verdadeiramente mafiosos. A mim importa-me denunciar as alarvidades da coisa, como a questão dos concursos.
No ano passado fui confrontado com uma situação caricata: um elemento da minha equipa, que terminou a sua bolsa de doutoramento, concorreu para uma bolsa de pós-doc. Tinha média de 16, cerca de 12 artigos publicados, participação em vários projectos como membro (não como "colaborador), uma série de comunicações orais em congressos internacionais e inclusivamente tinha experiência docente e como prestador de serviços na área em questão. Uma "vizinha" do lado, de outro departamento mas exactamente da mesma área científica, também aluna de doutoramento em fim de bolsa, concorreu para atribuição de bolsa de pós-doc, mas com uma óbvia diferença: não tenho conhecimento das actividades paralelas, mas os seus esforço de publicação ficaram por um artigo numa revista internacional com arbitragem... A diferença era abissal entre ambos os candidatos, a julgar pelos critérios apregoados pela própria FCT. Só algo confundia a cena. O orientador dessa vizinha, e também seu supervisor no projecto de pós-doc é uma pessoa muito influente no meio: para além de ter sido presidente do painel de avaliação de uma dada área científica na FCT por largos anos, onde se encheu de dinheiro a si e aos amigos, continuou a manter a sua total influência a partir de 2002, porque ele saiu (para quem não sabe, a partir dessa data os paineis passaram a ser exclusivamente internacionais) mas os seus amigos ficaram como júris. E esse senhor influente andou, alto e bom som, a anunciar a boa nova nos corredores do Centro antes mesmo dos resultados sairem: " A I... terá bolsa de pós-doc". Como a alarvidade era tão escandalosamente improvável, caso os critérios mínimos de equidade fossem cumpridos, ninguém levou isso em linha de conta... Mas o facto é que os resultados saíram: o meu colega não teve bolsa e a "vizinha" teve. Surpreendidos? Eu fiquei, não com o resultados mas com a lata imensa de transformar este país no Zimbabwe, tal o nível de corrupção.
Portanto, se há algo a investigar, creio que estes exemplos são demasiados comuns para passarem impunes. Ainda ontem, uma minha colega (membro da minha equipa), com 14 artigos publicados, foi preterida por outra "vizinha", com 3 artigos publicados. Pormenor crítico: a "vizinha" foi orientada por uma afilhada científica do mesmo senhor. Já nada me surpreende, só a placidez com que a maioria dos cientistas aceita isto. Eu não me calo.
Saturday, December 8, 2007
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