Sunday, December 9, 2007

Vigilância, uma CCTV na Ciência Nacional

Por vezes falo com pessoas que pouco ou nada têm a ver com Ciência, e alguma demonstram estranheza quando afirmo que há corrupção neste meio. E eu ponho-me a pensar: neste país de pequenos vigaristas, ditadores de algibeira e de corruptos de meia tigela, porque é que o meio científico haveria de ser excepção? Por serem doutores?

Obviamente não é excepção. Estranho muito, confesso, que o Estado crie mecanismos de fiscalização de tudo e de mais alguma coisa, mas que não seja capaz de se aperceber que muitos dos seus próprios funcionários lhe estejam a delapidar recursos, de forma tão grosseira e evidente. Vejam a arma política do "rendimento mínimo garantido", o combate à evasão fiscal, o controlo das baixas médicas... Custa-me igualmente a crer que o Tribunal de Contas não esteja alerta para determinadas engenharias financeiras e sacos azuis. E mais do que tudo isto, vejo com absoluta bizarria o silêncio da Procuradoria Geral da República pelos mais flagrantes casos de corrupção e de indícios sistemáticos de compadrios neste meio. E estou a falar de muito dinheiro: cada projecto nacional, como os do último concurso de 2006, pode chegar aos 200.000€. É um crime que vai compensando.

Política: eu acho que a função pública deve aprender que qualquer concurso cujos avaliadores o sejam por mais de um ano, vai inevitavelmente desembocar em suspeição. E não considero válido o argumento claramente preguiçoso de que não se pode mudar de painel anualmente. Conheço muita gente competente e avalizada para se pronunciar sobre a qualidade de projectos e de bolseiros, e que nunca foi sequer convidada para integrar um juri oficial. Por outro lado, a preguiça é tanta, que se chega ao ponto de confiar em potenciais corruptos, para delegarem a responsabilidade de serem corrompidos os seus próprios apaniguados. Quando os juris passaram a ser integralmente internacionais, em algumas áreas científicas optou-se por manter o mesmo painel, com excepção dos portugueses que foram corridos. Onde antes havias 6 compadres, só passou a haver 5, todos estrangeiros. Que fantástica solução, que garante de isenção...

E depois são os factos consumados: "na área tal, temos fulano que é que é o especialista..." Mas que raio, porquê? Será esse o único português com conhecimentos na área? Será que esse de que tanto se fala é ou foi orientador de todos os outros? E como se muda depois este statu quo, em que de uma forma quase automática alguns gurus (muitos de qualidade duvidosissíma) se eternizam, sen nunca demonstraram os seus reais valores? Exemplifico: há umas semanas, o meu grupo liderou um processo de angariação de linhas estratégicas numa abordagem a parceiros internacionais. Algumas pessoas, entre as quais uma que destaco pela sua nulidade científica e cátedra a condizer, insurgiu-se publicamente contra essa coordenação, no entanto sem nunca apontar um motivo válido para não querer que fôssemos nós a coordenar. Porquê? Por pura vaidade, por achar erradamente que é dona da verdade e do conhecimento. E isto porque alguém bem colocado lhe garante o acesso a financiamentos de projectos e de bolsas individuais. Por mérito pessoal não é de certeza. E isto é incomportável, e tem de ser denunciado e posteriormente investigado.

A maior demonstração de pequenez da mentalidade de muitos dos corruptos e corruptores nacionais é acharem que os outros são parvos. É acharem que nunca serão apanhados, ou chamados à justiça, ou que podem facilmente escapulir-se por entre os pingos da chuva, assobiando placidamente para o lado. Mas também a responsabilidade é nossa, caso não lhes façamos sentir que estamos acordados e numa posição legitimamente vigilante, e que não perdemos pitada das suas movimentações.

Um pequeno teaser: Querem nomes?

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