Já fui bolseiro, mas ao contrário de muitos que se esquecem facilmente dos constrangimentos por que passam muitos bolseiros, eu não esqueço, o que me motiva a perseguir um objectivo de maior equidade entre quem faz ciência em Portugal. E motivos para me insurgir não faltam, neste país de desregulamentação que só serve a alguns. Na qualidade de orientador de bolseiros, confesso que me conviria muito mais, para não me aborrecer com "picuinhices", ser favorável à manutenção do statu quo, e assumir que este estado de coisas "é que deve ser", que "o bolseiro está em formação", que "no meu tempo também era assim" e outras vilanias mais ou menos disfarçadas de sacanices politicamente correctas. Mas não o faço, porque ainda acredito que os homens se medem pelo que defendem, para além do conforto de um bom salário e de um sofá onde assentar as nádegas.
Apesar de algumas iniciativas pontuais relativas ao bem estar social do bolseiro, das quais se destacam a questão das férias estarem previstas (aleluia!!, que o legislador se convenceu de que os bolseiros não eram máquinas, qual epifania decorrente de um qualquer vislumbre da Carta Universal dos Direitos do Homem) e a protecção mínima na maternidade, que nos separam do 3º Mundo, muito há ainda por fazer. Nomeadamente, falo da questão da protecção profissional dos bolseiros. E por protecção profissional refiro-me à mais elementar relação orientador-orientando, como uma relação laboral, com direitos e obrigações de parte a parte. Eu bem sei que cada vez menos farão sentido alguns destes direitos para muitos, mas eu não aceito que sejamos pertencentes a duas classes opostas: exploradores ou explorados, pelo que acredito igualmente no primado do direito. Fazem-se regras, que se baseiam em princípios morais, e fazem-se cumprir estas regras. Simples, e ético. Assim, custa-me a crer que "questões laborais" ou se preferirem, que oponham orientandos e orientadores, não sejam arbitradas por uma 3ª entidade, como o caso da FCT. Ao deixar caminho aberto para o malfadado "bom senso", quem distribui verbas (a FCT) não só assegura uma total falta de protecção legal profissional como facilita, por omissão, o abuso. E quem me convence da boa vontade de muitos orientadores? Ninguém, nem mesmo o ar placidamente bonacheirão, e os mais rasgados sorrisos, do Dr. Gago.
Exemplo que me chegou há uns dias: Grupo de investigação num Laboratório Associado. De ponta, muitas publicações. Bolseira grávida. Mais outra bolseira grávida, pouco tempo depois da primeira. Comentário do director do departamento: "Abriu a época do acasalamento?? E porque não trabalha o mesmo que antes? Gravidez não é doença!"
Pois não, excepto no caso da gestação deste orientador, cuja mãe ainda hoje deve ansiar pela liberalização do aborto, com efeitos retroactivos.
Mas do que uma questão legal, isto é falta de civilidade. De educação. De respeito pelo próximo. De consideração por quem lhe produz o trabalho científico, com que este senhor (???) justifica ser um imigrante de sucesso em Portugal.
Dr. Gago, daqui me oiça: falta fazer muito, portanto pode começar por algum lado. E que tal por aqui?
Monday, December 3, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment