Ainda há bem pouco tempo, fiquei convencido de que nada na Ciência é diferente do que se passa no resto da sociedade. A mesquinhez, a inveja, os ódios, a humilhação, e acima de tudo, o exercício de poder, são uma constante e aliás, são muito valorizados. Num jogo que depende de avaliação, e avaliações feitas por seres humanos, como se pode evitar que se caia na tentação do exercício dese poder de avaliar de uma forma discricionária, e tantas vezes mal direccionada ou motivada por razões que nada ficam a dever à ética? Não se consegue, embora seja razoável para as instituições responsáveis pelos processos de avaliação de criar mecanismos que limitem ou reduzam eficazmente o factor associado a esta natureza humana. Mas que existem campanhas orquestradas, vendettas, avaliações pouco cuidadas e pouco criteriosas, existem. E que existem linchamentos em praça pública e verdadeiros autos de fé contra gente boa, também existem. E depois existe uma coisa que é verdadeiramente atroz, que é a cristalização dessas pessoas em cargos que lhes permitem o exercício do poder. Como muitos são docentes de carreira, catedráticos, e acima de tudo funcionários públicos portugueses, estão verdadeiramente acima da lei e de qualquer controlo. É esta a triste realidade da maior parte da Ciência Portuguesa.
Mas isto já nós sabemos. E este post não é para falar disso.
Este post é para falar de um dos aspectos mais perversos da natureza humana. Tenho constatado que muita gente com a qual contactei sofre de um síndroma interessante. São os primeiros a questionar este sistema, a apontar-lhe defeitos e a exigir que rolem cabeças. Mas não para o moralizar ou para acabar com ele. O que estes meus companheiros de viagem pretendem é ocupar a posição dominante, e assumir-se como "opressores", em vez dos "oprimidos" que hoje são. Ou seja, não se é contra o sistema, mas sim contra a sua própria posição no sistema. Maior hipocrisia não há, e infelizmente esta situação é reinante na Ciência nacional. Gente que viveu durante anos sob alegados jugos, transferiu para os outros, seus alunos, o ónus da exploração e da injustiça descontrolada e totalmente liberalizada que hoje grassa por muitos laboratórios.
Friday, December 28, 2007
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