Há uma moda em algumas Universidades públicas portuguesas, bem antiga por sinal, que consiste em haver docentes que são pagos para não dar as aulas que lhes competem. Alguns são muito bem pagos, pois encontram-se em topo de carreira, e encontram-se totalmente para lá do braço da lei, pois não há quem denuncie algumas destas alarvidades. E o caso é sério, quanto mais não fosse pelo número elevado de docentes que praticam esta modalidade de chulice.
Pois bem, a moda reside em convencer ou obrigar alunos de doutoramento (ou outros, embora estes sejam os mais frequentes) a dar as aulas que competiriam aos seus chefes. Há casos de verdadeiro escândalo, pois durante semestres inteiros os docentes em causa nem sequer se deslocam à sala de aula ou aos laboratórios onde deveriam leccionar, pois as aulas são integralmente asseguradas pelos díscipulos. Só surgem para recolher os despojos, que é como quem diz, a pauta para assinar e o vencimento para recolher, no fim do mês. E não falo só de aulas, pois existe um recurso a este expediente para avaliações, trabalhos, vigilâncias... Aquilo que estranho é que não haja conhecimento destas situações por parte dos Conselhos Científicos. O que mais me parece é que este órgão é conivente e pactuante com situações deste género, pois os Conselhos Científicos são constituídos por gente que recorre a estratagemas semlhantes quando podem ou quando lhes convém.
Agora vejamos o seguinte: a Universidade pública contrata um docente, que é pago por intermédio de uma dotação orçamental própria, proveniente do Orçamento de Estado e consequentemente do bolso de todos nós. E é contratado para executar uma função, que neste caso é a de ensinar. Depois, porque não existem mecanismos de controlo sobre estas situações, o funcionário público, do Estado, pago por todos nós, entende que não quer continuar a exercer a sua função. Ao invés do comum dos mortais, que ou aguentaria a situação ou apresentaria a sua demissão do cargo, arranja um escravo que o substitua, e muitas das vezes de forma gratuita. Resumindo: recebe e não faz, e ainda tolhe a vida de um terceiro.
Tenho conhecimento de gente que utiliza estes esquemas para se dedicar às mais variadas actividades: docência noutras instituições, política partidária, actividades empresariais, actividades científicas, passatempos lúdicos... Se umas são mais ou menos condenáveis, outras serão quase compreensíveis (como o caso da Ciência). No entanto, nada transforma uma atitude de laxismo e de exploração numa virtude, pelo que considero uma vergonha o que grassa por algumas escolas das Universidades portuguesas.
Como se diz em português corrente, "assim não custa".
Friday, February 22, 2008
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