Monday, May 5, 2008

E continuo no meu penúltimo post

O nosso país encerra pérolas do tamanho de casas. Ora vejam lá o que eu fui encontrar, enterrado profundamente no site da FCT, a propósito do Regime Jurídico das Instituições de Investigação(Decreto-Lei Nº 125/99). Disponível em http://www.fct.mctes.pt/pt/apoios/unidades/politica/regimejuridico/
Para verem que eu nem tenho ideias peregrinas ou desprovidas de sentido... provo-vos que é a Lei da Républica Portuguesa que consagra algunas princípios que o próprio Estado não preza minimamente. Senão, vejamos atentamente:

"As pessoas são a componente mais decisiva para o eficaz funcionamento de uma instituição, importando, por isso, assegurar uma mobilidade de pessoal que impeça a cristalização das instituições, permita a sua constante renovação, mantenha altos níveis de motivação entre os funcionários e opere tanto dentro do funcionalismo público como de e para o sector privado."

Depois, a alucinação colectiva ganha forma:
"Outra das áreas em que se legisla é a relativa à estrutura orgânica dos laboratórios do Estado e das outras instituições públicas de investigação, para todas se estabelecendo a obrigatoriedade de se dotarem de um conselho científico e de uma unidade de acompanhamento, órgãos a que acrescem, para os laboratórios do Estado, uma comissão de fiscalização, uma comissão paritária e um conselho de orientação, que funciona junto das respectivas direcções. O conselho de orientação é integrado por representantes dos ministérios mais empenhados na actividade da instituição, como forma de assegurar um mais eficaz envolvimento dos vários departamentos governamentais na acção dos laboratórios do Estado."

Conclusão bombástica, e a prova como o mal compensa:
"As instituições de investigação científica e desenvolvimento tecnológico deverão pautar a sua actividade por princípios de boa prática científica, devendo adoptar os procedimentos adequados a que os mesmos sejam tornados efectivos."

Isto só merece um sorriso.

A eternização de nomes em cargos é manipulada pelos silêncio de que a lei se reveste. Veja-se:

Estrutura
1 - Sem prejuízo da previsão de outras categorias nas respectivas leis orgânicas, os laboratórios do Estado devem obrigatoriamente possuir os seguintes órgãos:

a) Direcção;
b) Conselho de orientação;
c) Conselho científico;
d) Unidade de acompanhamento;
e) Comissão de fiscalização;
f) Comissão paritária.

2 - A estrutura institucional prevista no número anterior é aplicável aos laboratórios associados, com excepção dos órgãos previstos nas alíneas b) e f).

Os órgãos existem, mas como são revistos nem uma palavra. Eu creio que é por herança, ou sucessão directa do filho varão.

Não resisto a colocar a bold os maiores contrasensos entre a praxis e a realidade. Se o Estado garante combater a cristalização, onde estão as medidas que visem tornar rotativas as chefias? É que tudo começa por aí! Ou será que os grandes teóricos dessa idiossincrasia que é a Ciência Nacional nos fazem crer que é pela base que se muda a pirâmide? Quando a organização do trabalho eterniza uma teta, como desmobilizar os ávidos beiços que a seguram? Vergonha...

Parabéns ao próprio Ministério por me dar razão. Agradeço embevecido.

3 comments:

Filipe said...

A maior parte da ciência que se faz em Portugal é ciência de encher chouriços! Que vocação é necessária para se fazer ciência dessa ? O "coitado" do Albert Einstein no mundo científico actual não sobreviveria ! Conheço grupos em Portugal onde os alunos durante os seus doutoramentos publicam mais de 10 artigos !! Viva a papermania e as fábricas de encher chouriços ! Viva a ciência ao kilo !!! Neste país da treta, para se "ser bom" basta fazer-se um PhD numa dessas fábricas de produção de artigos em série !! Como é possivel haver concursos para contratos programa onde se diz que os candidatos têm de ter mais de x artigos publicados ??!! E o que significa ter mais de x artigos publicados ??!! Artigos sem co-autores ou artigos com 20 co-autores ??!! Artigos em jornais com bom factor de impacto ou artigos em jornais da treta ??!! Artigso em que se é o 1º autor, ou artigos em que se é o vigésimo autor ??!!

Filipe said...

O senhor fala de um modo que até parece querer condenar os ditos bolseiros !! Qual pensa o senhor que seria a sua situação actual se tivesse agora nos seus 28-35 anos e um PhD debaixo do braço ?? Quer que lhe diga? Muito provavelmente o senhor seria bolseiro !!

Brotero said...

Não há mesmo hipótese de continuar a viver neste país de loucos mafiosos que se degladeiam selvaticamente e que vivem na esperança de encontrar o El Dorado ao virar da esquina. As mafias científicas continuam a proliferar com o apoio de magos Gagos e dos seus irmãos. Não dá mais para aguentar este estado de coisas, quando vemos toda uma nova geração de investigadores completamente lançada aos bichos e a serem exportados em nome do empreendorismo científico e duma pacóvia adoração por modelos de desenvolvimento que já deram o que tinham a dar e que nos estão a meter cada vez mais no buraco. O país atingiu o fundo e não se vê qualquer possibilidade de alterar esta situação a curto ou a médio prazos. O país e os portugueses mereciam e merecem muito mais.