Wednesday, June 6, 2007

Prostituição cientifica

Como o promotido é devido, e eu sou um homem de palavra, dedico este post à designada prostituição científica. E prostituição é sempre aquele tema sórdido que garante que qualquer motor de busca o vai marcar, e pode ser que quando alguém fizer uma pesquisa ingénua (ingenuidade na prostituição é também um conceito interessante...) que apareça este blog. E como a minha ideia é divulgá-lo muito para além dos limites do razoável, então ficarei feliz.

Mas o que é isto da prostituição científica? Prostituição, numa definição mais ou menos consensual, significa vender o corpo a troco de algo, transaccionar o esforço, alugar partes anatómicas, e principalmente, mercar a intimidade e a dignidade. É isto que a sociedade ocidental considera como prostituição, e associa-lhe uma carga pejorativa, realmente sórdida, de decadência e imundície, de valores morais degradados, e com aquele toque tão português do fadinho da desgraçada, que um dia para alimentar os filhos até andou nisso... Autocomiseração badalhoca e vergonhosa, que algumas consciências menos límpidas até encontram justificação.

Há cientistas portugueses que se prostituem. Vendem a sua dignidade, o seu amor próprio, a sua integridade para agradar, ou para ter mais um artigo, ou para garantir a aprovação de um outro projecto, ou tão somente para alcançar a projecção mediática que nunca conseguiriam obter por trâmites mais normais ou legítimos.

Há cientistas que cavalgam a onda, e só pedem a Deus que o lastro não lhes seja curto, para poderem surgir em mais um tempo de antena, em mais uma actividade, em mais uma comissão de avaliação, em mais um colégio de uma ordem, em mais uma organização não governamental, em mais uma associação de caçadores ou pescadores, mesmo que essas actividades às quais se dedicam não tenham nada de coerente. E para cavalgar essa onda, essa crista, esse topo, o que importa como objectivo última é a cagança, o enchimento do ego, o vangloriar-se de feitos alheios, adoptados como seus pelas cadeias hierárquicas que descrevi no post anterior. São os cientistas de pacotilha, os medíocres, os que publicam muito e sobre todos os assuntos do Mundo. Porque quando se vê um curriculum vitae que versa de tudo e de mais alguma coisa, como tantas vezes se vê nas provas de agregação de muitos, é razão para desconfiar. Por uma razão elementar: não é possível ser-se bom em tudo, e simultaneamente. E por muito que se maquilhe esta pouca vergonha, para olho mais atento é tão evidente como as mini saias das mulheres de estrada. Ora, isto é prostituição.

O que acontece é que invariavelmente os(as) prostitutos(as) são intelectualmente fracos, e utilizam o expediente da exploração de uma situação para seu benefício próprio. A prostituição é uma falha de carácter, seja na dos fluidos íntimos que se trocam, seja na dos favores dos corredores dos Ministérios que se praticam. E quando se dá a oportunidade de ser o Estado, que não fiscaliza, a dar dinheiro para algo, que não controla, e a dar plenos poderes, a quem não penaliza, então estamos perante a total carnificina. Principalmente a dos alunos de pós-graduação e a dos cientistas bem intencionados.

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