Thursday, April 24, 2008

Democracia? Não, obrigado

O título deste post bem podia ter saído das memórias de um qualquer ditador sul-americano patrocinado pela CIA na década de 70. Mas não, quis o destino que eu aplicasse este epítopo aquilo que considero uma das maiores falácias do sistema científico nacional, que são as chefias dos departamentos dos Laboratórios Associados.

Quando surgiu a alegada panaceia que se materializou e consolidou no conceito do "Laboratório Associado", a ausência de massa crítica a nível nacional de peritos nas mais variadas áreas científicas obrigou a que a fossem contactados os presumíveis especialistas, que só existiam nas universidades públicas portuguesas. Naturalmente, estes docentes (e friso bem o conceito de docentes) aproveitou a oportunidade virgem de terem sob a sua alçada verdadeiros laboratórios de elevada produtividade, e sem os constrangimentos habituais que as universidades, costumeiramente avessas à inovação e à competitividade (por colocar em causa o status cristalizado de alguns, uns poucos - já tantas vezes aqui retratada, esta realidade...) lhes impunham. Assim, surgem verdadeiras comissões instaladoras de reconhecido mérito, que, segundo o conceito inicial, seriam propgressivamente substituídas (ou trabalhariam em colaboração próxima) com verdadeiros cientistas não docentes no sentido da prossecução dos objectivos que haviam ditado a sua génese. Pois, mas hoje o que se vê não é isso. Bem pelo contrário, o que se vê são feudos que se transferem das universidades para os LAs, se eternizam e se amplificam fora dos espaços das universidades, que, e apesar de tudo, ainda controlavam pela força da lei as actividades desempenhadas. Os LAs são, por vezes, locais em que o pior obscurantismo grassa, a coberto da alegada competitividade selvática de que (alguma) ciência carece. Pelo menos, a acreditar em alguns.

E eis-me aqui chegado, a questionar o que faz com que as direcções dos departamentos dos LAs estejam sob a alçada de um dado indíviduo. Não leio nos estatutos de nenhum LA como o director do laboratório é eleito, ou nomeado, ou entronizado ou endeusado. Como se pode chegar a este ponto, em que alegadas estrutyuras informais se mantenham de pedra e cal, mesmo por vezes gerindo milhões de euros, gerando contratos de trabalho e prestando serviços ao Estado? E como se permite a eternização de chefias, sem haver o mínimo preceito democrático? Foi tão somente uma questão de terem chegado primeiro? Porque isto é feudalismo no seu estado mais puro.

Aqui fica a questão a debate: será que nós, cientistas, não merceremos ser tratados em democracia?

1 comment:

Brotero said...

Bem-vindo ao mundo do "quem tem olho é rei" e do "lava mais branco", mesmo que não lave nada. O país está nas lonas, por isso o "departamento" científico do manicómio nacional não pode estar imune à loucura democrática. Só há uma solução; fiquemos loucos duma só vez. Custa menos e não dói tanto.