Gostaria de deixar aqui um esclarecimento, que pela leitura das minhas palavras pode ter havido uma interpretação duvidosa. Eu não acho que para falar de biologia só devemos ter biólogos. Aliás, qualquer um de nós que faça Ciência sabe que a multidisciplinaridade é absolutamente fundamental, e que novas abordagens não quer dizer que sejam menos válidas. Aceito que para falar de qualquer assunto que seja, qualquer formação é válida, desde que se respeitem os preceitos-base de uma convivência democrática. Se para além de física, um físico percebe de biologia, tanto melhor para ele, para nós e para todos.
Agora, a questão que eu quis tocar não é essa. O que eu quero dizer é que lamento que uma estação de televisão paga por todos nós se ache refém de confiar num não-expert para seleccionar alinhamentos de cientistas para virem falar e discutir temáticas que nem de perto nem de longe o host domina. Por uma razão simples: o host não tem capacidade de avaliação, nem sentido crítico, para saber se o seu convidado está ou não nos limites da Ciência na área em questão. Eu assumo que posso falar de física, mas eu não sei se todos os físicos de uma faculdade de Ciências são bons; como não os posso chamar a todos para falarem na televisão, cometo o erro grosseiro de só chamar os "chefes", que muitas das vezes são pessoas já demasiado distantes das descobertas e só têm perspectivas generalistas dos assuntos??? Percebem agora onde pretendo chegar???
E depois, será que são os chefes quem mais precisa de publicidade e de promoção dos seus trabalhos??? Pelos vistos são!!!
Com a agravante de durante uma temporada, este programa televisivo ter sido baseado na prata da casa, e proveniente do instituto de onde o host emana. Resumindo: apareceu lá gente bem fraquinha, e a falar de cor de coisas que tinha lido na véspera... digo isto, porque os conheço, infelizmente alguns até pessoalmente.
Lamento depois é o efeito que isto tem na opinião pública: passa-se a associar uma imagem de cientista a um conjunto bem arquitectado de personagens e de ladaínhas politicamente correctas, em que as eminências pardas em tudo concordam, sem que haja a frontalidade de se assumir que fazemos uma Ciência de capelinhas. Eu compreendo que para o canal em questão, que ainda por cima é um canal público regional e em afirmação, que seja de vital importância a manutenção destes laços, mas eu pergunto: só há estes "cientistas" em quem confiar para a elaboração deste tipo de iniciativas? Será que estas iniciativas, com este formato e com este tipo de contribuição, não passam inevitavelmente a ser aborrecidas, não se transformam na "voz do regime", não se assumem como repetitivas e a saber sempre ao mesmo, em virtude de terem intervenções das mesmas pessoas? O que diriam os nossos melómanos de serviço se todas as sinfonias fossem dirigidas pelo mesmo maestro? Será que programas destes não deveriam ser elaborados com base em sugestões de mais do que 3 ou 4 cientistas? Será que não seria mais útil trazer sangue bem mais novo, avesso à endogamia instituída, para estas andanças?
São questões que ficam a debate. Podem parecer de menor importância, mas toda esta conjuntura ajuda a criar uma verdadeira camisa de forças que prende e limita este país. Como se não houvesse alternativas válidas, quando elas estão aí, bem vivas e com o sangue na guelra.
Tuesday, April 1, 2008
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