Sunday, May 9, 2010

A família

A família ainda é o que era... e pela família fazemos todos os sacríficios, incluindo continuar a ver a família dos outros a orientar-se à conta do dinheiro de todos e a todos prejudicando.

Mais um caso paradigmático, que me chegou aos ouvidos. Uma dada senhora, que por linhas travessas (assuntos de alcova, entenda-se) passou a fazer parte de uma dada família de supostos iluminados, docentes de uma dada universidade pública portuguesa. Como estava numa de ciência, e até nem era burra, concluiu a sua tese de doutoramento, como aliás, 99% das pessoas que se propõem fazê-lo. Esta ciência é a tal mesma ciência-chique que alguns gostam de apregoar que fazem, quando têm muito dinheiro e não precisam de contribuir para o bem estar da sociedade. Mas fazem-no, para demonstrar o quão bons católicos que são, que dedicados, que esforçados, que inteligentes, e que cidadãos exemplares, e porque se correr mal e a bolsa acabar, hélas!!, o paizinho, a empresa da família, o status social, ou a família do marido hão de vir em nosso auxílio, e resolver tudo. Bendito pára-quedas genético. E ainda dizem que o dinheiro não traz felicidade. É que neste Portugalzinho das cunhas e dos favores ainda há gente hipócrita ao ponto de se achar no mesmo barco dos que fazem certas coisas por pura necessidade ou por vocação: "vejam, eu estou ao vosso nível, eu também sou pobrezinho. Eu podia estar a receber 10000€/mês na empresa do meu pai, mas não, quero fazer ciência e estou a receber uma bolsa de 980€ mensais, mas só durante 4 anos, porque a seguir tenho mesmo de ir receber os tais 100000€/mês. Que bom que foi conviver com os pobrezinhos, tanto que aprendi a pôr a mão na massa e a trabalhar a sério, uma vez que fosse. Mas vamos lá acabar com isto, que me estão a rebocar o Aston Martin que deixei estacionado em cima do passeio."

E então, pôs-se as influências a funcionar. Nessa universidade, não há contratações há alguns anos, mas curiosamente vão entrando alguns. E recebem por isso. E esta criatura de que tenho conhecimento já lá está, sem concurso, sem reunir condições para lá leccionar, pois era uma recém doutorado sem qualquer experiência docente no momento do "convite". Mas está lá, de pedra e cal, enquanto que os sem sangue azul estão cá fora. Uns com bolsas, outros sem, uns desterrados, outros desempregados, e a maioria frustrados. Digam-me lá se não vivemos no obscurantismo.

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