Monday, May 31, 2010

A lata da falta de modelos

Não há dia nenhum em que não seja confrontado com charlatões. Parece uma epidemia. São tantos que já nem os conto. Fazem tanto e tão pouco que metade deste país é constituída de charlatões e a outra metade vive, de bancada, a vê-los. Um case study que justifica que sejamos investigados pelas nações Unidas.

Em terra fértil, basta a semente. Em Portugal, basta um chico esperto para fazer vingar a ideia de que a chico-espertice é um bom lema de vida. E eles multiplicam-se, ao arrepia do bom senso, da educação que os nossos pais nos deram, do que o sociedade convencionou ser o certo e o errado, do que a Igreja Católica papagueou. Enfim, hoje há gente que parece que só vive para o estrelato efémero de dizer baboseiras, e ascender a cargos de poder por isso.

A mim, ensinaram-me que os modelos devem ser impolutos, quase imateriais, e inumanos, intangíveis e inalcançaveis no seu desempenho, abnegação, dedicação, desinteresse e conduta moral inatacável. Portanto, ser modelo nunca estaria ao meu alcance, mas seria bom que perseguisse essa via, que seria garantia de um dia vindouro não ser recordado pelos meus filhos como um escroque. Seria sempre melhor viver e morrer a tentar, do que conseguir o que não me poderia estar atribuído, talvez por eu não ser suficientemente bom ou que, simplesmente, não tivesse mérito para tal. Mas deveria tentar, tentar sempre, e mesmo que fracassasse, nada me satisfaria mais do que um joelho esfolado, a tentar ser melhor. Ir mais além, superar-me, vencer com lealdade, tanto os outros, como a Natureza, e acima de tudo, vencer-me a mim mesmo.

Cresci a pensar assim, mas já com um olho na conta bancária. No entanto, honestidade é um conceito tão sólido como o ar que se respira. E mesmo que houvesse dúvidas, num momento ou noutro, bastar-me-ia cheirar o odor do modelo, do seu suor, do seu sofrimento, e a direcção do norte da justiça moral e ética foi-me sendo, sempre, revelado. E assim fui, e vou andando.

O que eu acho estranho é que haja tamanha falta de modelos em tanta gente. Alguns até conheço os pais, e fico por vezes a pensar no que ali terá falhado. Filhos de gente trabalhadora, humilde, sem ensejo de grandes vôos ou vigarices, criaram (sem educar) um filho que mais não é do que um estupor. Um maquiavélico ser de egoísmo puro, que vende a alma dos seus pais para prolongar um momento breve de fama pequena. Gente para quem a vergonha, o pudor, ou o temor de fazer fraca figura não existe. Não existe também a noção de que mentir é feio ("pimenta na língua"., onde estás tu?), de que a soberba não se usa, que a superioridade em qualquer assunto demonstra-se sem se apregoar, que a justiça deve estar a impregnar os nossos discursos. Gente oportunista, hipócrita, falsa e mentirosa, intelectualmente diminuta, capaz das maiores vilanias para se sobrepor ou para aparecer nas passerelles. gente sem qualquer réstia de moralidade, sem conhecimentos para abrir o bico - mas contudo, fazem-no. Gente pobre, estúpida e mesquinha, vaidosa, que corre a esconder as suas infinitas fragilidades, que se adapta, qual camaleão, a todos os ambientes, sem demonstrar enfado. Que forma mais sibilina de estar. Que topete. Que descaramento têm alguns destes travestis.

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