Ainda a propósito do europeísmo, ao longo do dia foram surgindo mais algumas considerações relativas à temática lançada, com estrépito e satisfação de marketing, o Europeísmo militante do Sr. Ministro. Logo a começar: o conceito de se anunciar que se atingem metas discutíveis, é no mínimo e por si só, discutível. Quando algo é feito para surgir no noticiário, então é porque o desejo de se publicitar ultrapassa, e em muito, o verdadeiro substracto do assunto. E de facto, foi o que aconteceu. Premiaram-se pessoas, uma que já nem precisa de prémios por ser mais um elemento do sistema, e duas, porque já são sobejamente (re) conhecidas na comunidade científica para precisarem de mais louvores. É claro que merecem todas os meus parabéns, nuns casos mais sinceros do que noutros.
Depois, a questão das metas. Mas será que este governo não encaixa que este país não se pauta pelos mesmos valores que os outros países europeus? Depois, por consequência, se não se pauta, também não se avalia por bitolas importadas. Isto é lógico. Um país sem aposta séria na I&D, um país que perde mais tempo a inventar sistemas para evitar a competitividade, um país que herda práticas corporativas e hierarquizadas, um país que vive de importâncias e de "baronatos", um país que gosta de mordomias, um país de mesquinhez e de descontrolo, um país de funcionalismo público institucionalizado, um país de favores e compadrios, como algum dia poderia compreender a imprtância da Ciência e da Tecnologia? Estes só são importantes em larga medida por decreto, porque se apregoa na televisão, porque é fixe, porque é moderno, e porque o Governo se faz parecer moderno quando invoca estes chavões; e depois, são também importantes porque permitiem que uns poucos coloquem suavemente a pata no pescoço de muitos outros nas universidades, nos institutos e nos centros de investigação. A Ciência nacional, lamentavelmente, só serve estes propósitos. Felizmente, que a honra é uma opção individual, e que eu me orgulho de honradamente lutar contra este lodaçal. Apesar dos prémios, continuará a ser um lodaçal, porque enquanto houver "cientistas" que antes do próprio concurso estar em edital, já o ganharam...
Surge ainda outra vertente das metas. Primeiro, quais metas? Quais índices? Depois, qual o valor intrínseco de termos atingido essas metas? Seguidamente, qual o ganho desse objectivo ter sido atingido? Qual o avanço social, cultural, económico, inerente a ter sido cumprido esse alegado desígnio? Depois, em que condições, e recorrendo a que sacríficos, e acima de tudo quem terá cometido esses sacríficios para que fosse possível afirmar-se tal coisa? Porque hoje já não chega cumprimentar com o chapéu alheio, porque para esse peditório do amor à camisola já demos, Sr Ministro.
Depois, a questão do timing. Faz precisamente 3 anos... 3 anos é quase o fecho de um ciclo político, tal como uma das minhas intervenções de há dias, e convém que haja trabalho feito para mostrar. Não teremos entrado já em pré-campanha? Não será necessário aquecer desde já o ânimo das hostes que quiçá tenham andado por terras da laranja? É que não nos esqueçamos que antes de fazer (pela) Ciência, o Sr Ministro faz política, facto que não se compadece com haver calotes aos fornecedores porque o seu ministério não paga a tempo e horas. Nem se compadece com cientistas altamente qualificados que recebem 745€ por mês, com segurança social foleira, e a 12 meses. Nem se compadece com a mais elementar justiça de haver avaliações isentas e co critérios claros que estejam subjacentes à meritocracia.
Por último, a questão de se premiar alguém que foi nomeado para o cargo que desempenha. Até nem tenho objecções de monta, excepto nos casos pouco claros dos editais Ciência Viva, que não contemplam bolseiros, mas depois vamos a ver, um barão telefona à galardoada e está o caso desbloqueado, temos mais um bolseiro fora do plano, e pago com verbas à medida.
Lodaçal, e profundo. Mas foi um mar de rosas, nem que seja só por um dia.
Sunday, March 16, 2008
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