Tuesday, March 25, 2008

A avaliação II

Eu conheço grupos de investigação em que lamentavelmente as publicações são encaradas como uma obrigação dos mais novos e um direito dos mais velhos. Conheço grupos em que um dado indíviduo, nos idos do arroz de quinze, obteve verba para adquirir um equipamento, e logo todos os artigos têm de levar o nome dele. Conheço outros grupos em que nem sequer se equaciona que não seja o (ou a) chefe a assinar. Conheço grupos em que mesmo que haja alguém que nada tenha feito pelo artigo, é considerado um direito inalienável colocar lá o seu nome, por pertencer ao grupo. Conheço também as deferências quase estatutárias, em que o chefe tem como seu o direito de assinar sempre, independentemente de nem sequer conhecer o primeiro autor do trabalho. Conheço grupos em que a ordem dos autores é estabelecida por ordem alfabética!!!, quando toda a gente sabe que se ser 1º ou último autor são coisas diferentes. Conheço grupos em que cientistas que tiveram um desempenho de mérito são colocados nos agracedecimentos, por questões de mera lógica política dentro do departamento. Conheço grupos em que o chefe, e o chefe do chefe, e o seu respectivo chefe, e se calhar o chefe deste, têm nome garantido na publicação, somente por serem "chefes". E na função pública. Esta lógica, a ser subvertida e caricaturizada, garantiria ao Presidente da Républica um curriculum vitae invejável, pois é o chefe de todos os chefes. Il capo di tutti capi.

Creio portanto que haja muitas formas de "lavar" a publicação de todas estas ignomínias, e adoptar um sem número de critérios de avaliação objectivos e credíveis, mas se há gente que não tem vergonha na cara para fazer estas coisas, decerto não a terão para mentirem com quantos dentes tenham, e continuarem a tentar ludibriar o sistema. É que há gente capaz de uma inventividade maquiavélica extraordinária. Por isso acredito que só com a instituição de uma lógica de denúncia, em que sejam factualmente comprovados os factos, seja possível pôr termo a esta absoluta loucura. Porque o que está em causa é a verdade, e avaliações que tenham por base critérios tão claramente falseados serão inevitavelmente enganadoras e geradores de conflitos.

Acabei de saber agora que a FCT tem uma base de dados onde são compilados dados sobre os atropelos que alguns investigadores da nossa praça cometem: contra os alunos, contra os editais, contra os regulamentos, contra o Orçamento de Estado, contra o património público, contra as regras de elegibilidade de despesas. E pelos vistos, a coisa funciona, pois este historial de incumprimentos começa a ser utilizado pelos avaliadores dos projectos na hora de conceder verbas. Começa a compensar ser honesto, e acima de tudo a não estar calado.

1 comment:

Brotero said...

Caro André,

Você ainda acredita que a FCT utilize a referida base de dados para o fim que refere? Pelo que conheço, a FCT tem a referida base de dados para "europeu" ver. Na FCT se alguma coisa funciona, só se for a dos amigos dos amigos ou da influência política e sobretudo a da "Grande Loja" do nosso ministro e irmãos...