Sunday, March 23, 2008

Bruxas

Hoje falo sobre o papel cumplíce de alguns órgãos de comunicação social que outrara imbuídos de um sentido de missão pioneiro, criaram secções muito meritórias de divulgação científica. De forma simples, simplória até (por vezes), assumiram o importante papel de contar ao mundo o que nós, geeks da ciência, fazíamos nos nossos espaços pouco iluminados, rodeados de gaiolas e de instrumentos complexos que debitam resultados ininteligíveis. E alguns destes órgãos, e refiro-me ao Jornal Público de forma específica, criaram uma área específica dedicada à Ciência, e chegaram ao inusitado ponto de profissionalismo de contactar cientistas que colaborassem com a redacção. Tive o prazer de conhecer um destes indivíduos, e fiquei claramente consciente de que finalmente, a comunicaçõa social tinha dado o passo certo, em boa hora e de modo criterioso. Pois bem, fui dos primeiros a achar que o Público era uma instituição de qualidade, isenta e sem qualquer constrangimento político ou de agenda mediática de qualquer grupo de pressão. Pois bem, enganei-me.
Não só essa colaboração com os tais cientistas findou, como inclusivamente a divulgação científica e a sua qualidade diminuíram a pique, chegando a passar-se semanas sem que haja a adição de uma única e singela notícia nesta secção. Partindo do pressuposto que artigos científicos são publicados em todo o mundo, e diariamente, não será decerto por falta de matéria prima que o Público não publica. E depois os critérios de manutenção de notícias pouco confortáveis para o aparelho do Governo, é no mínimo, tendencioso. O Público, a achar-se democraticamente instalado no seio do 4º poder, institucionalizou uma secção de "comentários". Pois bem, esses comentários tornam-se frquentemente verdadeiros foruns de discussão, muito mais do que de bota-abaixo ou de descasque, da verdadeira voz de quem acham justificadamente que as coisas estão mal. E como estes comentários são notoriamente desagradáveis, pois colocam a nu todas as debilidades do sistema científico nacional, são eliminados - juntamente com a notícia. Pois bem vejamos com um exemplo: até há relativamente pouco tempo (assumindo poucos meses atrás), o Jornal Público mantinha uma notícia sobre adição de esteróides a algo que hoje não consigo precisar (rações de animais, creio). Era uma notícia recente, com cerca de 3 anos... Notícias muito mais recentes e muito mais "interessantes" ou "apimentadas" (como a dos prémios da excelência às competentes mas já sobejamente premiadas Maria Mota e Mónica Betencourt Dias) foram retiradas ao fim de uma semana.

Eu nunca falei de censura, pero que la hay, la hay.

1 comment:

Filipe said...

Tornei-me leitor habitual do seu blog. O senhor diz que a vida não é feita de heróis e eu concordo totalmente consigo. No entanto a avaliar pelo número de publicações parece que Portugal está cheio de grandes heróis !! Gostaria de ler reflexões e opiniões suas sobre o modo de avaliação de cientistas com base no número de publicações. Fiz PhD em Cambridge. Ao regressar a Portugal fiquei surpreendido ao constatar que há cá em Portugal grupos especializados em "encher chouriços" havendo jovens "investigadores" que aos 30 anos já possuem mais de 30 publicações !!! Serão estes os futuros grandes cientistas ??! Pessoalmente, estou plenamente convencido que a resposta é NÃO !!