Friday, March 21, 2008

O estranho silêncio de quem devia dizer algo

A primeira vítima da podridão instalada no panorama científico é o País, são os portugueses, são as instituições nacionais (empresas, famílias, associações), que não conseguem ter um progresso sustentado, do ponto de vista económico, alicerce da evolução social e cultural.

As segundas vítimas de todo este descalabro são... os bolseiros. Porque são eles quem trabalha, quem rende, quem produz na prática, quem está socialmente desprotegido, quem é mal pago, quem não vê institucional ou tácitamente reconhecido o seu esforço, quem está sistematicamente afastado das mesas das negociações, e acima de tudo quem não se faz representar. É quase como se não existissem, excepto para trabalhar, pois na generalidade das situações, não são tidos nem achados em qualquer decisão que importe à Ciência.

Agora digam-me: como se justifica este ensurdecedor silêncio das instituições que presumivelmente defendem os bolseiros? Onde pára a ABIC? Qual a contribuição que esta organização (não) deu para o desenvolvimento do estatuto social e profissional dos bolseiros? O que (não) andam a fazer? Para além de manifestos que promovem na sua página web, o que faz e para que serve a ABIC?

Aconselho a visualização de um filme, dos celebérrimos Monty Pithon, chamado "A Vida de Brian". Há uma passagem memorável em que um alegado "partido" da antiga Palestina, notoriamente inspirado no esquerdismo militante e canibal, que possui dois objectivos: o objectivo declarado, que é expulsar os romanos da Terra Santa; o segundo, que por vezes suplanta o primeiro, que é sobrepôr-se aos outros partidos esquerdistas revolucionários da Palestina. E na digestão destes dois objectivos, ficamos a perceber que o primeiro é meramente formal, e que o segundo é muito mais prático e imediato: eles acabam por existir para serem eles a verdadeira esquerda, nem que para isso destruam, ou se autodestruam, no decorrer do processo revolucionário. Mas isto é para a gente se rir. Ou não.

É o reflexo instalado de mais uma vertente de superioridade moral, versão gauche, socializada e cool. Com direito a agorrâncias psuedo-intelectualizadas.

A ABIC é, quanto a mim, muito semelhante: existe para existir. Defender os bolseiros é secundário. E só assim se compreende que estejam tão calados e quietos, quando o momento é para tudo menos para estar calado.

Daqui ninguém sai incólume. E a Ciência está tão mal como está, por culpas de todos. Não há heróis.

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